CONCEITO

IV MOSTRA 3M DE ARTE DIGITAL

A 3M do Brasil, mantendo seu compromisso de debater e incentivar a produção artística contemporânea ligada às mídias digitais, a Elo3 Integração Empresarial, idealizadora do projeto, novamente em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, realizam a IV Mostra 3M de Arte Digital. Nesta edição, Ficções Radicais constroem o eixo estabelecido pela curadora e artista midiática Gisela Domschke e traz 20 artistas.

Ficções Radicais

No final de seu ensaio “A conquista do espaço e a dimensão da estatura do homem”, Hannah Arendt nos mostra que nossa capacidade de “conquistar o espaço” se deu pela nossa aptidão de renunciar radicalmente ao nosso senso comum terrestre. “E no entanto, uma mudança real do mundo humano, a conquista do espaço,  só seria atingida quando as máquinas espaciais transportando seres humanos fossem lançadas no universo, a fim de que o homem pudesse chegar onde, até então, apenas a imaginação humana e seu poder de abstração, ou a engenhosidade humana e seu poder de fabricação, podiam ir”. Ao observador em equilíbrio no espaço livre imaginado por Einstein junta-se agora um de carne e osso.  Deste ponto no espaço, a tecnologia deixa de “aparecer como um resultado de um esforço consciente do homem para estender o seu poder material”, e passa a ser vista como “um processo biológico em grande escala”.

No final do século XX, o mundo passa a ser subdividido em diferentes fronteiras permeáveis à informação. Donna Haraway escreve em “Um Manifesto Ciborgue” que as tecnologias de comunicação e a biologia moderna são construídas por um movimento comum –  “a tradução do mundo em um problema de código”. Os dispositivos microeletrônicos estão por toda parte. Estratégias de controle concentram-se nas interfaces e nas taxas de fluxos entre fronteiras. As coorporações multinacionais, o poder militar, os sistemas de satélite, os processos políticos, a fabricação de nossas imaginações dependem da eletrônica. A biotecnologia passa a receber mais atenção que a reprodução humana.

A biologia surge como uma ciência potencial para se redesenhar materiais e processos com consequências revolucionárias para a indústria. Neste cenário, a maior ameaça é a falha no sistema. Stress passa a ser a patologia privilegiada, que afeta todos os tipos de componentes deste universo.

Chegamos agora a um ponto de exaustão - social, ambiental e econômica. Hoje, no contexto de uma duradoura crise "financeira", que coloca em questão muitos outros aspectos de nossa sociedade, torna-se vital a discussão de futuros e caminhos alternativos.

Esta exposição não é uma chamada a revolução. É um convite para um momento de pausa, de olhar para trás e pensar no futuro. Um espaço para proposição de ficções radicais, sejam de perspectivas críticas, experimentais ou simplesmente imaginárias.

A ficção é uma forma de narrativa que lida com eventos (ainda) não factuais, que nos permite explorar as possibilidades de nossos desejos, a fim de entender o que são hoje as limitações. Isso ajuda a dar um passo para além da estrutura rígida de nossa forma de vida, e olhar para as suas complexidades de uma certa distância.

Os trabalhos aqui reunidos apresentam vários tipos de ficção. Atuando como agentes, são sistemas de ação destinados a provocar e questionar o modo como vivemos e de reimaginar o nosso futuro de todos os dias.

Gisela Domschke


HISTÓRIA DA MOSTRA

A Mostra 3M de Arte Digital é voltada à arte contemporânea  e procura estimular formas de reflexão sobre a cultura digital e sua presença em todos os campos do conhecimento e do cotidiano.
A primeira edição em 2010 teve como curador Allan Szacher, diretor criativo da Editora Zupi. Em 2011, a curadoria foi de Julius Wiedemann, editor da Taschen e em 2013 teve a curadoria de Giselle Beiguelman,  midiartista Professora da FAU-USP .

Realização