Ernesto Neto nasceu em 1964 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Seu trabalho lida com relacionamento, seja entre materiais, forças e seres. Assim, a gravidade e o equilíbrio aparecem como elementos mediadores deste relacionamento, desafiando e expandindo o vocabulário da escultura.
Considerando o legado de vanguardas como neoconcretismo, minimalismo e arte povera, entende o corpo como questão política fundamental em sua poética, de modo que suas esculturas evocam organismos vivos, além de ativarem múltiplos sentidos do corpo do espectador. Nos últimos anos, Neto se volta para materiais naturais, como algodão, madeira e folhas, e nos convida a entrar em estados meditativos e a reconectar o corpo cultural com a espiritualidade de estar vivos, onde estamos em constante transformação, corpo e nós.
Exposições individuais recentes incluem: Sopro, Casa de La Moneda, (Santiago, Chile, 2020); Pinacoteca do Estado de São Paulo, (São Paulo, Brasil, 2019) e MALBA (Buenos Aires, Argentina, 2019); GaiaMotherTree, Zurich Main Station, apresentado pela Fondation Beyeler, (Zurique, Suíça, 2018); Boa, Museumof Contemporary Art Kiasma (Helsinque, Finlândia, 2016); Rui Ni / Voices of the Forest, Kunsten Museum ofModern Art (Aalborg, Dinamarca, 2016); Aru Kuxipa | Sacred Secret, TBA21 (Viena, Áustria, 2015); The Bodythat Carries Me, Guggenheim Bilbao (Bilbao, Espanha, 2014); Haux Haux, Arp Museum Bahnhof Rolandseck(Remagen, Alemanha, 2014). Destacam-se, ainda, participações na Bienal de Veneza (2017, 2001), de Lyon (2017), de Sharjah (2013), de Istambul (2011) e de São Paulo (2010 e 1998). Sua obra está presente em renomadas coleções, como: Centre Georges Pompidou (Paris), Inhotim (Brumadinho), Guggenheim (Nova York), MCA (Chicago), MOCA (Los Angeles), MoMA (Nova York), Museo Reina Sofía (Madri), SFMOMA (San Francisco), Tate (Londres), TBA21 (Viena), entre outras.
Ano: 2024
Material: crochê com barbante de algodão, bambu, cerâmica, borracha, pedra, madeira, terra, argila expandida, plantas (espada-de-são-jorge e espada-de-santa-bárbara).
Dimensões: 310 x 550 x 655cm
“Teia do bicho tempo, quark!” é uma escultura em estado de equilíbrio. Todas as partes se relacionam em uma dança de interdependência entre forças naturais e materiais, a partir da massa de um ponto – pedra expandida no espaço-tempo – que cria um campo energético ao seu redor.
A pedra flutua em estado de suspensão por meio de uma rede de crochê que se expande em três tentáculos, conectando todas as partes do acontecimento. Esses tentáculos se alçam ao espaço pela força de três troncos de bambu que se mantêm verticais pela tensão entre duas pontas, sendo finalmente aterrados ao trabalho pelo peso de três vasos cheios de terra, água e plantas – duas espadas-de-santa-bárbara e uma espada-de-são-jorge.
A obra faz alusão às estruturas atômicas, cujos núcleos são formados por prótons e nêutrons, e estes por agrupamentos de três quarks. Assim, se o próton tem dois de um tipo e um de outro, ou, melhor dizendo, duas santa-bárbaras e uma são-jorge, o nêutron seria composto por duas são-jorge e uma santa-bárbara. Cada um deles tem uma bolinha chamada glúon. Os quarks do nêutron brincam entre si de trocar bolinhas, o que os mantém presos uns aos outros por essa força de interação. Os prótons estão na mesma brincadeira e, às vezes, as bolinhas voam de um grupo N para o grupo P. Resultado: santa-bárbara vira são-jorge, são-jorge vira santa-bárbara e, consequentemente, próton vira nêutron e nêutron vira próton.
Essa troca de energias que ocorre em toda matéria do universo há bilhões de anos e dentro de nós mesmos transcende limites de gênero, sexualidade ou moral, sendo uma dança contínua de criação e transformação. As espadas-de-são-jorge e de santa-bárbara, escolhidas por serem plantas guardiãs e por representarem forças masculinas e femininas que reforçam essa dualidade, lançam-se verticalmente para o espaço, estabelecendo um forte contraste com a linearidade do horizonte da Terra, assim como a formação das folhas, o que nos dá uma ideia de coletividade. “Teia do bicho tempo, quark!” revela a tensão constante entre as forças opostas e complementares que sustentam e equilibram tanto a matéria quanto as interações humanas e naturais.