MAHKU

O MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin (Acre pinta cantos. Traduz e transforma os cantos huni meka em imagens. Esses cantos, por sua vez, são caminhos que colocam os participantes dos rituais com ayahuasca em relação com a alteridade. O MAHKU pinta, portanto, uma tecnologia de relação. Telas que são pontes em direção ao mundo não-indígena.


Os caminhos do MAHKU já os levaram longe. Atualmente, na 60ª Bienal de Veneza, Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere, o MAHKU pintou a história de Kapewë Pukeni (o mito do jacaré-ponte) no grande mural criado para a fachada do Pavilhão Central, a entrada principal localizada no Giardini.

As obras do MAHKU são parte da coleção do Museu de Arte de São Paulo (MASP), Pinacoteca do Estado de São Paulo e Fondation Cartier, em Paris. Entre as exposições em que participaram, destacam-se Histoires de Voir (Fondation Cartier) Histórias Mestiças (Instituto Tomie Ohtake), 35o Panorama da Arte Brasileira: Brasil por multiplicação (MAM-SP), Avenida Paulista (MASP), Vaivém (Centro Cultural Banco do Brasil), Vexoá: nós sabemos (Pinacoteca). Assim, através da arte, os integrantes do coletivo dialogam com os não-indígenas e fortalecem sua autonomia cultural e territorial.

Título da obra: Casa Kupixawa Huni Kuin (pinturas e cantos Yube Nawa Aibu, Txãī Pūkeruakē e escultura Mulher Jiboia)

Ano: 2024

Material: madeira, palha, bambu, acrílica sobre tela, cerâmica.

Dimensões: variadas

A obra “Casa Kupixawa Huni Kuin” nos convida a adentrar o universo sagrado e ancestral do povo indígena huni kuin, trazendo para São Paulo a agência de sua “casa de cura e criação”, tradicionalmente localizada no Acre. Essa construção, feita com madeira, palha e bambu, materializa a profunda conexão dos huni kuin com a natureza e sua ancestralidade. Mais que uma arquitetura, a Kupixawa é símbolo de resistência, confluência e organização social e espiritual, sendo o local onde acontecem as mirações e os rituais de cura e fortalecimento ligados ao uso do nixi pae (ayahuasca) em celebrações coletivas.

A Kupixawa nos aproxima de forma única e íntima das cosmovisões do povo huni kuin, revelando a beleza e a profundidade dos cantos sagrados Huni Meka, traduzidos em imagens pelo coletivo MAHKU, liderado pelo cacique Ibã Huni Kuin. Ele iniciou os registros de cantos míticos relacionados aos rituais com a ayahuasca e os transportou para telas em exuberantes pinturas com a ajuda dos artistas Bane e Acelino Tuin. A transposição das canções para a visualidade artística ilustra a fala do cipó – a fala do nixi pae – em rituais com três tipos de cantos: “de abrir caminhos”, “de miração” e “de cura”.

No interior da Casa Kupixawa, serão apresentadas duas pinturas-cantos de Acelino Tuin e Ibã Huni Kuin, ilustrando canções de cura e de abrir caminhos que, mais que narrar, envolvem os visitantes na música que ecoa como paisagem sonora e que originou as telas, criando assim uma atmosfera imersiva e uma experiência de visualização, miração e espiritualização. A canção Yube Nawa Aibu (“Povo da Mulher Jiboia”) chama a luz e a força da jiboia, convocando à participação ativa no mito e no diálogo com a jiboia Yube Shanu. Esse ser transmorfo remete ao mito de origem da ayahuasca, pois foi a Mulher Jiboia Yube Shanu quem transmitiu a sabedoria do chá do cipó para o Yube Inu, primeiro huni kuin a conhecer o poder do chá de ayahuasca. Essa figura mítica atravessa fisicamente a obra Casa Kupixawa na forma de uma grande escultura cerâmica – A Mulher Jiboia – que traduz a força e a energia cósmica do cipó. Já a canção Txãī Pūkeruakē (“O som do macaco branco”) evoca a comunicação entre animais e a cura dos males físicos e espirituais.

A obra Casa Kupixawa é um verdadeiro elo entre mundos, onde o conhecimento ancestral e a força do nixi pae nos ensinam que a cura, o sonho e a conexão com a natureza são atemporais, transcendem barreiras e revelam passado, presente e futuro em circularidade. Sentir com o corpo é o convite da mítica Mulher Jiboia Yube Shanu, que nos diz: “Você vai sonhar dentro, você bebe, você sente a força, sente a luz, sente e vê”.

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